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terça-feira, 24 de agosto de 2010
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Educação para Totós - Eduardo Sá
"Muitos pais enfeitiçam as crianças, tornando-as sapos, quando as transformam no seu precioso espelho mágico, ficando totós uns para os outros.
1. Nas histórias para as crianças há, regra geral, uma princesa adormecida (de preferência formosa) e um cavaleiro apaixonado que se propõe despertá-la, com um fogoso beijo nos lábios. É verdade que poucos pais consideram que esta tendência obstinada de um transeunte, cheio de amor-próprio, para incomodar (com beijoquices) o eterno descanso da princesa seja um mau exemplo para as crianças. E é verdade, também, que se fosse um filho nosso a beijar (mesmo por distracção) um sapo com quem se tivesse cruzado, em vez de despontar – de tão fortuita fortuna - um príncipe teríamos lá em casa uma zaragata à italiana. Por outras palavras: não há quem entenda a forma imprudente como os adultos põem aos beijos as personagens das histórias para as crianças…
Mas – pior ainda – o que me preocupa é que nessas histórias há sempre uma pessoa que dorme e outra que a desperta. E isto já é publicidade enganosa. Porque – todos sabemos – duas pessoas acordam sempre que aquilo que as liga as desperta, uma à outra, ao mesmo tempo. Aliás, eu acho que, com as crianças, se passa, sensivelmente, ao contrário do que sucede às princesas e aos sapos: elas estão despertíssimas mas, mais beijo menos beijo, há sempre alguém que não descansa enquanto não as adormece, por dentro, e as transforma em totós. (Se pensava que o lado enganador das histórias para as crianças passava pela forma como elas falam, por exemplo, de fadas – como se fosse possível encontrá-las numa qualquer repartição – ou pelo engenho com que põem uns pares de renas e o Pai Natal às voltas pelo ar, está muito enganado…).
Mas – pior ainda – o que me preocupa é que nessas histórias há sempre uma pessoa que dorme e outra que a desperta. E isto já é publicidade enganosa. Porque – todos sabemos – duas pessoas acordam sempre que aquilo que as liga as desperta, uma à outra, ao mesmo tempo. Aliás, eu acho que, com as crianças, se passa, sensivelmente, ao contrário do que sucede às princesas e aos sapos: elas estão despertíssimas mas, mais beijo menos beijo, há sempre alguém que não descansa enquanto não as adormece, por dentro, e as transforma em totós. (Se pensava que o lado enganador das histórias para as crianças passava pela forma como elas falam, por exemplo, de fadas – como se fosse possível encontrá-las numa qualquer repartição – ou pelo engenho com que põem uns pares de renas e o Pai Natal às voltas pelo ar, está muito enganado…).
2. Histórias à parte, são muitas as circunstâncias em que os pais acumulam muitos créditos com os quais tornam as suas crianças um bocadinho adormecidas. Ou, se preferirem, um tudo-nada… totós. Daí que, para acabarmos, de vez, com esta tentação de transformarmos crianças despertas em totós adormecidos devemos dizer que:
- as crianças estão autorizadas a sujar-se. As crianças que não se sujam não são uns anjos: ainda não descobriram que serão pessoas melhores sempre que forem pequenos índios com coração e com maneiras;
- as crianças devem brincar, também, na rua. Sempre que só sentem a cidade através dos vidros do carro dos pais deixam de ser crianças: ficam macambúzias;
- as crianças precisam de descobrir o tempo livre. Quando têm uma agenda e nunca mandam nos seus minutos – pelo menos quando brincam – não são crianças. São burocratas de mochila;
- as crianças têm o «direito constitucional» de andarem de cabeça no ar. Sempre que alguém as quiser certinhas e crescidas ficam rezingonas. E só quando forem pais, com um sentimento que viveram adormecidos, é que irão perceber que só aprende quem põe ao leme, para sempre, a vontade de rir;
- as crianças têm o dever de crescer com a ajuda de algumas trapalhices, porque só as crianças trapalhonas sabem que o brincar é a melhor escola de todos os imprevistos;
- as crianças estão autorizadas a cair. Nunca caindo não aprendem a cair;
- as crianças devem lutar, várias vezes por semana. Primeiro, com almofadas, com os irmãos. Depois, no chão da sala, com o pai. E, a seguir, com os amigos, fora de casa. Se nunca lutam podem, até, parecer exemplares. Mas não são crianças: tornam-se «xoninhas»;
- as crianças têm o direito a não ser falsamente elogiadas. Sempre que as elogiam, como se fossem tolas, viram sapos. Podem até ser belas. Mas tornam-se adormecidas.
- as crianças estão autorizadas a sujar-se. As crianças que não se sujam não são uns anjos: ainda não descobriram que serão pessoas melhores sempre que forem pequenos índios com coração e com maneiras;
- as crianças devem brincar, também, na rua. Sempre que só sentem a cidade através dos vidros do carro dos pais deixam de ser crianças: ficam macambúzias;
- as crianças precisam de descobrir o tempo livre. Quando têm uma agenda e nunca mandam nos seus minutos – pelo menos quando brincam – não são crianças. São burocratas de mochila;
- as crianças têm o «direito constitucional» de andarem de cabeça no ar. Sempre que alguém as quiser certinhas e crescidas ficam rezingonas. E só quando forem pais, com um sentimento que viveram adormecidos, é que irão perceber que só aprende quem põe ao leme, para sempre, a vontade de rir;
- as crianças têm o dever de crescer com a ajuda de algumas trapalhices, porque só as crianças trapalhonas sabem que o brincar é a melhor escola de todos os imprevistos;
- as crianças estão autorizadas a cair. Nunca caindo não aprendem a cair;
- as crianças devem lutar, várias vezes por semana. Primeiro, com almofadas, com os irmãos. Depois, no chão da sala, com o pai. E, a seguir, com os amigos, fora de casa. Se nunca lutam podem, até, parecer exemplares. Mas não são crianças: tornam-se «xoninhas»;
- as crianças têm o direito a não ser falsamente elogiadas. Sempre que as elogiam, como se fossem tolas, viram sapos. Podem até ser belas. Mas tornam-se adormecidas.
3. Nas histórias para as crianças há, regra geral, uma princesa adormecida (de preferência formosa) e um cavaleiro apaixonado que se propõe despertá-la, com um fogoso beijo nos lábios. Mas, na verdade, quem estraga as histórias das princesas adormecidas não são nem os dragões nem as maçãs envenenadas. Nem o riso sarcástico das bruxas. Nem, muito menos, o lobo mau, o capitão Gancho ou a Maga Patalógica São mais os espelhos mágicos. E, pior, muitos pais enfeitiçam as crianças, tornando-as sapos, quando as transformam no seu precioso espelho mágico, ficando totós uns para os outros. E, mais beijo menos beijo, esquecem que, ao contrário das histórias, as pessoas só acordam sempre que despertam, umas para as outras, ao mesmo tempo."
Escrito por Eduardo Sá
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Imaturidade do sistema auditivo pode causar dificuldades de aprendizagem
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Os primeiros anos de vida são fundamentais para que a criança amadureça as vias auditivas, contudo, este processo de estimulação tem início ainda na gravidez, uma vez que é nesta fase que a comunicação é responsável por formar um vínculo entre a mãe e o bebé. Todos nós nascemos com o ouvido pronto, em termos estruturais, mas o que nos permite diferenciar a voz materna da paterna, reconhecer a melodia de uma música, perceber se o tom de voz transmite raiva ou alegria é a experiência sonora que temos na nossa vida. Nem sempre o "ouvir mal" significa surdez, uma vez que podemos considerar diversos tipos de perda auditiva. Podemos ser capazes de detectar a presença de um som, mas ouvi-lo com fraca qualidade e não conseguir percebê-lo e discriminá-lo. É o que se verifica em crianças com perturbação do processamento auditivo. A criança com PPA ouve bem, desde que não seja em ambientes ruidosos. No entanto, se o ambiente for perturbado por ruídos de fundo a criança pode apresentar dificuldades em compreender e reconhecer os sons, trocando a informação recebida, pois quando a informação chega ao sistema auditivo, parte da mensagem já foi perdida. Numa criança com perturbação do processamento auditivo é comum demorar algum tempo para responder a uma pergunta, por achar que não escutou bem, ou pedir para que os pais repitam a informação. A criança diz muito "hã?", "o quê?", troca palavras parecidas (tais como "semente" por "você mente"), e troca algumas letras na escrita e às vezes na fala (" faca" por "vaca"). Sabe-se que cerca de 5% das crianças em idade escolar, ou 7% como no estudo acima citado, tem as suas vias auditivas pouco estimuladas e desenvolvidas. Nestas crianças a informação "chega ao destino", ou seja, elas ouvem tudo, porém, demoram mais a processar aquilo que escutam porque o cérebro não sabe o que fazer com os sons. Quando escutamos a professora e conseguimos estar atentos a ela, mesmo que tenha ruído na sala ou que o colega do lado fale muito, temos uma função auditiva que nos ajuda a aprender. Deste modo, temos de ter em conta que o ouvido é a porta de entrada de grande parte da nossa aprendizagem (fala e escrita) e que uma disfunção no sistema auditivo compromete a identificação e compreensão dos sons que rodeiam a criança, impedindo-a de usufruir das suas competências auditivas. E como é que a PPA pode ter implicações no quotidiano escolar do seu filho ou aluno? Se considerarmos que os processos de linguagem se desenvolvem em consonância com o processamento auditivo, então uma disfunção neste sistema prejudicará a fala da criança, e consequentemente a leitura e a escrita acabam por ser também afectadas. Assim, uma criança pode ter dificuldades em falar bem se não souber lidar com os sons. Ter uma imaturidade do sistema auditivo significa ser especial? Necessitar de apoio especial? Nem sempre... É possível uma criança ter PPA e não sofrer em nada com isso. Na maioria das vezes observamos alguma dificuldade na linguagem associada à PPA: trocas de sons na fala, dificuldades académicas, bem como na leitura e escrita, e problemas comportamentais, como a desatenção. O mais importante é verificar os sintomas e procurar ajuda de um especialista para avaliar a função auditiva central. Fique atento a algumas questões:1. O seu filho tem dificuldade em escutar ou entender em locais com barulho? 2. Tem dificuldades de entender quando alguém fala de forma mais rápida? 3. Tem dificuldade de seguir instruções orais? 4. Tem dificuldade de discriminar os sons da fala? 5. Dificuldades com a leitura? 6. Facilmente distraído? 7. Pede para repetir as informações? 8. Não memoriza o que escuta? |
CRISTIANE LIMA NUNES Audiologista e Terapeuta da Fala
in EDUCARE.pt
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